Homem que teve perna amputada após moto ser atingida por carro imprudentemente que invadiu a contramão da BR-101 em Estância ainda se recupera do trágico acidente e paralelamente a família de João José dos Santos buscam por uma justiça justa. O motorista do veiculo responde o caso em regime aberto.
Acidente ocorreu a exatamente sete anos no dia 18 de agosto de 2019 no trecho da BR-101 em Estância, um veiculo invadiu a pista acertando a motocicleta que trafegava em seu trajeto normal sentido sul de Sergipe. Com o impacto o piloto da motocicleta identificado por Washington Reis de Santana, ex-coordenador técnico da Defesa Civil Municipal de Estância foi lançado há quase 10m de distância. No acidente Washington acabou perdendo a perna, teve várias lesões no corpo e tendo fratura exposta grave do fêmur, teve seu pé direito parcialmente decepado qual foi socorrido às pressas para o Hospital Regional de Estância. Já o passageiro que vinha com ele na motocicleta que também foi lançado da moto teve graves lesões em membros superiores (crânio) e foi a óbito no local.
FOTO: PÉ AMPUTADO E FÊMUR COM APARELHO FIXADOR – HOSPITAL JOÃO ALVES
O Motorista foi indiciado por lesão corporal com dolo eventual, omissão de socorro e fuga do local do acidente e permanece no regime aberto.
Washington Reis afirmou na manhã desta segunda-feira 18 de agosto, seis anos após o acidente que ainda se recupera do trágico acidente e que ainda luta na justiça pelos danos causados.
“Eu agradeço todas as mensagens dos amigos, familiares, dos colegas de trabalho, da nossa advogada de defesa que recebo pelo carinho e força, acredito na justiça. Estou tendo uma lenta recuperação por que tive uma complicação no ano seguinte a minha cirurgia do fêmur, uma bactéria hospitalar surgiu e tive que retorna ao centro cirúrgico para uma nova cirurgia e depois de mais um ano retornei para retirar o fixador femoral. Com a prótese não tive sucesso, pois o formato do membro amputado (coto) pós-cirurgia não foi bem feito porque se tratava de uma cirurgia de vida ou morte e ficou um osso na ponta do coto que impediu de usar. Os médicos optam por uma nova amputação, mas psicologicamente não vou aceitar que seja feita uma nova cirurgia, eu ainda estou sob observação de infectologista e ortopedista fazendo os tratamentos necessários e monitorando a osteomielite crônica que é uma infecção óssea de longa duração que foi causada por bactérias hospitalar, que se instalou no meu osso femoral, depois de anos passando por cirurgias, exames a bactéria ainda persistia e tive que recorrer as emissoras de rádios a sites para pedir uma ajuda para custear os gastos médicos. Fiz um tratamento envolvendo muitos antibióticos administrados por via intravenosa e oral, para combater a infecção quase morri, foi outra sobrevivência. Novamente outra cirurgia para remover o osso infectado, drenar abscessos e limpar a área afetada (desbridamento), foi muito sofrido e isso abalou meu psicológico. Muitas pessoas não sabem o que dizem e acho que porque me verem na rua acreditam que estou aposentado e que tudo isso já foi resolvido, quando na verdade esse pesadelo já dura seis anos que estamos lutando na justiça pelos danos causados, pela reparação e enquanto isso o motorista que colidiu na moto se contradiz na cara dura e foi pego novamente em uma blitz da SMTT de Estância com sinais claros de embriagues quando pilotava uma motocicleta. Ele foi detido pela Guarda Municipal de Estância em flagrante e levado a delegacia qual ficou preso, pagou fiança e foi liberado. Acredito que estamos chegando ao fim dessa história porem a vida não tem preço, o pé que eu pedir não tem preço isso é incalculável e a minha liberdade de fazer tudo sozinho dependo hoje de muitas coisas quando alguém pode me ajudar. A minha esposa Laiane desde o acidente é que me dar essa força, é que segue os meus passos e que sabe das minhas dores todos os dias. Não é fácil você chegar por exemplo em um supermercado e querer fazer uma compra e não ter como fazer isso sozinho, lamentável essa demora do judiciário resolver, sei que não é só o meu caso que são analisados é o sistema brasileiro que é lento mesmo. Tem pessoas que morrem no meio do processo e outras que lutam e acabam com as mãos vazias. Por outro lado estou lutando por uma aposentadoria porque o INSS ainda não reconheceu que não tenho condições de retornar ao mercado de trabalho na situação que fiquei e na verdade nós deficientes não tem muita chance para um trabalho adaptável qual eu ainda não tenho condições nenhuma de fazer. Lamentou Washington Reis.
Joana Maria e Acácia Mauricio, filha e esposa respectivamente da vitima João Cabeleireiro não teve também nenhuma assistência por parte do condutor e ainda lutam contra um processo que parece não ter fim.
FOTO ARQUIVO PESSOAL: AKÁCIA (VÚVA), JOÃO CABELEIREIRO (FALECIDO), JOANA (FILHA)
O motorista que não teve ferimentos aparente fugiu sem prestar socorro, a justiça o indiciou por lesão corporal com dolo eventual (quando se assume o risco de ferir alguém), omissão de socorro e fuga do local do acidente.
Washington Reis afirmou que é um milagre estar vivo diante do forte impacto da colisão.
“Foi um milagre eu sair vivo. Vendo as imagens, eu me lembrei do momento da batida. A gente toma um baque, e foi terrível, violento. Eu caí e vi a minha perna jorrando sangue sobre a viseira do meu capacete, depois desmaie e não conseguir ver mais nada. Eu lembro somente que vi um carro preto com faróis apagados parado no acostamento e quando me aproximei ele acelerou bruscamente o veiculo e nos atingiu, foi muito violento repetiu Reis”.
O caso envolve a busca por responsabilização do motorista e possíveis indenizações.
Luta por justiça:
A família da vítima que morreu e a pessoa que teve a perna amputada buscam responsabilização do motorista do carro e possíveis indenizações pelos danos causados. Algumas ofertas foram recusadas porque no entendimento da defesa das vitimas o valor é muito inferior aos danos.
FOTO ARQUIVO PESSOAL: FÓRUM DE ESTÂNCIA/MARÇO DE 2025 – WASHINGTON REIS (PERNA AMPUTADA)
“Vamos até o fim, não tem dinheiro que pague a vida das pessoas nem um membro e nada fica normal quando um acidente desse porte causa impacto na vida das vitimas e das famílias, e a liberdade, e os danos também são irreparáveis. A situação envolve tanto danos físicos (amputação) quanto emocionais e financeiros decorrentes da perda de um ente querido e da necessidade de tratamento e adaptação à nova condição. Washington, a esposa dele, os filhos estão nesse sofrimento há seis anos e querem apenas justiça justa”. Disse a advogada de defesa das vitimas.
Aposentadoria incerta
No mês que completa seis anos Washington Reis será periciado por um perito e o laudo será encaminhado para a justiça federal. O pedido de aposentadoria deu entrada justificando a comprovação por meios de laudos médicos que Washington está incapacitado permanentemente para retornar as atividades laborais e que mesmo colocando na fila de espera por uma reabilitação profissão não tem como se readaptar as novas funções do mercado.
“Tenho dificuldades e quando tento fazer algo que fazia antes do acidente eu não consigo, mesmo sentado a frente de um computador a minha perna doe, ela incha, esquenta, tremula e não é só a amputação do pé, a outra região afetada que foi o fêmur também sinto dores. As vezes em casa realizado pequenas tarefas, em poucos minutos corro para cama para colocar a minha perna sobre ela porque começa a inchar e sentir dores, ai tomo algo para minimizar, coloco gelo. Eu não imagino de volta ao trabalho para depender de outras pessoas, a minha perna esquerda que sustenta todo o meu corpo não é mais a mesma, ela enfraqueceu e não suporta todo o peso corporal, é duro ter que suportar tudo isso e passar por essa humilhação e para completar o acidente contribuiu para o aumento da pressão arterial. A mudança no corpo e a adaptação a essa nova condição afetou a pressão, além de fatores como estresse, dor e readaptação à vida diária e não para por ai, eu e minha esposa vem tentando um filho há quatro anos e após realizar alguns exames descobrir que estou com dificuldades e foi comprovado que os espermatozoides estão fracos, não tem força suficiente para gerar o filho, ou seja, minha saúde ficou muito complicada após o acidente. Procurei ajuda psicológica, ajuda de especialistas e acredito que o acidente causou também alguma lesão relacionada a função reprodutiva. Obvio que quando descobrir que estava sem o pé gerou em mim um estresse, ansiedade e não vou mentir que quase pirei no leito hospitalar. Eu também acredito que a lesão impactou muito na produção de hormônios sexuais e, consequentemente, a fertilidade. Contudo, estamos ainda buscando especialistas para que possamos ter sucesso”. Comentou Reis.
Humilhação
“É muito triste ter precisado chegar até a justiça federal para se humilhar por um direito nosso, ter que se submeter a tudo isso, seis anos tendo que ficar aguardando por uma decisão do INSS que em nenhum momento reconheceu que pedir um pé, pedir a liberdade, fui contaminado por uma infecção hospitalar e não tenho condições de trabalho e sabe, as vezes penso na injustiça porque alguns que perderam um dedo consegue a aposentaria e eu que pedir os cinco dedos, o pé, o tornozelo como fica?”. Questionou.
Audiência, contradições do motorista na mesa do juiz.
A última audiência foi realizada no dia 11 de março de 2025 na sala das audiências do Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Estância. O condutor do veiculo negou ao juiz que após o acidente nunca mais teria cometido qualquer tipo de infração, porém uma das testemunhas da vitima revelou que o condutor do veiculo foi pego em uma blitz após anos do acidente qual ele estava a frente como Superintendente de Transporte e Trânsito de Estância e que o mesmo aparentava esta sob efeito de álcool que ainda tentou empreender fuga e que em seguida foi conduzido a delegacia da Policia Civil de Estância e foi preso por sinais claros de embriagues. Pagou fiança no dia seguinte e foi liberado.
Foi realizado o depoimento pessoal da vitima Washington Reis que disse que em nenhum momento foi procurado pelo motorista para qualquer tipo de assistência, que o condutor não prestou socorro saindo do local do acidente que João que estava na garupa e ele estavam de capacete e que ambos foram lançados para a rodovia tendo Washington fratura grave e João foi a óbito.
“O motorista mente em todos os seus depoimentos e ele insiste em afirmar que havia no local testemunha em seu favor, que permaneceu no local e a prova que ele realmente foi omisso é que a policia militar chegou rápido ao local, a policia foi que prestou socorro antes do samu chegar”. Finalizou Washington Reis.
A luta é grande na justiça, mas como diz o ditado… “a justiça tarda, mas não falha”.
SERGIPE REPÓRTER